Siran
Notícias

06/04/2018- Condições no mercado externo elevam preços nas negociações regionais


Seca da Argentina já impacta nas cotações de soja e milho e guerra comercial entre Estados Unidos e China pode trazer novas oportunidades de exportações da oleaginosa

Embora os prognósticos para a produção brasileira de grãos no atual ciclo agrícola ainda não apontem para uma superação dos recordes alcançados na supersafra do ano anterior, fatores no mercado externo indicam um cenário favorável para produtores de soja e milho do país, com reflexos em âmbito regional.

A seca na Argentina alavanca os preços nas negociações dos cereais colhidos no Brasil. Paralelamente, a queda de braço comercial entre os Estados Unidos e a China sinaliza para uma potencial oportunidade de ampliar as vendas dos grãos produzidos na região de Araçatuba para o mercado externo.

De acordo com o presidente do Siran, Fábio Brancato, o impacto da quebra da safra argentina já é visível. Ele calcula que, devido à seca no país vizinho, houve um incremento no preço da saca de 60 quilos de milho na comparação entre as negociações feitas na região ao longo de março deste ano e as comercializações do mesmo mês de 2017.

ALTAS

O valor da saca nas vendas locais subiu de R$ 35 para R$ 42 no período, conforme o presidente do Siran. A alta na comparação entre os preços dos dois anos é de 20%. No caso da cotação da soja, ele relata que o preço da saca na região saltou de R$ 70,85, em março de 2017, para R$ 79,36, no mesmo período deste ano. A variação positiva é de 12%.

Enquanto as condições climáticas da Argentina levam a uma possibilidade de aumento de renda para produtores de outras nações, o país afetado por uma estiagem que se estende desde novembro e se intensificou a partir de fevereiro terá uma perda de US$ 8 milhões devido à seca, de acordo com a Confederação Rural Argentina. No início de março, o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reavaliou as previsões para a produção argentina de soja.

Em levantamento anterior feito um mês antes, as estimativas do órgão norte-americano eram de que o país do Cone Sul colhesse 54 milhões de toneladas do grão. As projeções mais recentes encolheram, apontando para 47 milhões de toneladas. A diferença é de 7 milhões de toneladas.

Conforme o jornal La Nación, a região do “pampa úmido”, considerada uma das mais férteis da Argentina, vive a seca mais forte dos últimos 44 anos. A incidência de chuvas já é 87,5% inferior à média histórica em algumas partes do país.

O pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e professor da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo) Lucilio Alves explica que os preços do milho e da soja no Brasil tiveram uma recuperação, devido às perdas da Argentina, atraso na colheita brasileira e perspectiva de maior demanda externa pelo produto nacional. “Este cenário deve melhorar a renda de produtores. Há perspectivas de preços médios maiores em 2018, comparativamente a 2017”, analisa o professor. Ele acredita que caso a redução de oferta do país vizinho se intensifique, ainda há espaço para continuidade da sustentação doméstica.

PERSPECTIVA

O produtor de grãos e diretor do Siran Thomas Rocco, com propriedade em Guararapes, também percebe que a cada semana os relatórios consolidam mais perdas na produção argentina. “Portanto, novas valorizações estão por vir para os cereais”, afirma o produtor. Ele destaca que a quebra de safra da Argentina proporcionou alta nos preços de soja e milho que, tanto nas bolsas quanto no mercado físico, estão nos melhores patamares do ano.

Para Rocco, a cotação de milho superará o valor pelo qual o produto foi negociado em agosto de 2017. No caso da soja, os valores são inferiores aos de 2016, porém, melhores que os preços durante a colheita da safra anterior, de acordo com o produtor. “Cabe a cada produtor ter seu custo de produção em mãos para saber qual a melhor hora de fechar negócios.”

No caso específico do milho, Rocco acredita que a combinação da seca da Argentina, problemas de atrasos de plantio no Brasil e as exportações em alta ainda podem trazer boas oportunidades aos agricultores no primeiro semestre deste ano.

CHINA

Rocco avalia que a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China deva ser observada com muita atenção pelos produtores, já que também traz uma expectativa de aumento das exportações de soja para o país asiático e de melhores preços para os agricultores brasileiros. “Na esfera da demanda, a China continua sendo o principal destino das exportações de soja, portanto, a demanda segue aquecida.” O produtor explica ainda que, como o Brasil está em meio a um ano político, há perspectivas de incertezas no cenário cambial e uma apreciação poderia trazer bons negócios.

De acordo com a agência de notícias internacionais Reuters, a Associação Americana de Soja relata que autoridades chinesas afirmaram que a soja norte-americana deverá ser o principal alvo de retaliação do país asiático como resposta à tarifas impostas pelo presidente Donald Trump sobre o aço e o alumínio.

Segundo o pesquisador do Cepea, Lucilio Alves, as políticas externas americanas ainda são incertas quanto ao impacto sobre o Brasil. Ele ressalta que há boas expectativas para a agricultura nacional. Ainda que as estimativas para a produção brasileira de soja e milho neste ano agrícola sejam inferiores ao volume colhido na safra anterior, a oferta de grãos deve se caracterizar como a segunda maior da história.

No geral, a oferta deve possibilitar ao Brasil participar mais ativamente das exportações mundiais, assim como suprir o mercado interno de forma satisfatória. “As recuperações recentes de preços devem levar compradores a ajustamentos de suas estratégias de negociação e deve favorecer a renda de produtores”, afirma o pesquisador. Para ele, tudo indica um crescimento do PIB agrícola em 2018 em relação ao ano anterior, sustentado por boa oferta e preços maiores.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que a produção de grãos na safra 2017/18 deva atingir 226,04 milhões de toneladas, conforme levantamento divulgado no último dia 8. A projeção supera o número previsto em fevereiro: 225,6 milhões de toneladas. Se a estimativa se concretizar, a produção deste ano agrícola será 4,9% menor do que a verificada na safra 2016/17, que foi recorde de 237,67 milhões de toneladas.

REGIÃO

O presidente do Siran, Fábio Brancato, acredita que a área plantada de soja na safra de verão teve uma expansão de 6,2% em âmbito regional. Os cálculos levam em conta 33,091 mil hectares de plantio da oleaginosa em 18 municípios da região nesta temporada, contra 31,164 mil hectares do ano passado no mesmo território.

Segundo Brancato, a ampliação do plantio se deve principalmente à utilização de soja em área de reforma de cana-de-açúcar e à intensificação da integração lavoura-pecuária na região.

Ele estima que a produtividade de grãos na região em 2018 seja muito semelhante à do ano anterior, que girou em torno de 60 sacas por hectare. “Este ano tivemos bastante quantidade de chuva na época certa. Tivemos um pequeno veranico em dezembro, que não afetou a produtividade. Em relação ao ano passado, o clima se comportou da mesma maneira, por isso as produções dos dois deverão ser muito semelhantes”, afirma.

Para o produtor Thomas Rocco, o relatório da Conab, mesmo indicando uma safra de grãos um pouco menor à anterior, traz números positivos para a produção de grãos brasileira. “Nossa produtividade vem aumentando consideravelmente nas últimas três safras. Anos sobre a influência do fenômeno La Niña trazem boas produtividades na maior parte das regiões produtoras do Brasil”, afirma. Ele acredita que na região a situação não deverá ser diferente. “Apesar de alguns casos pontuais de perdas e baixas produtividades, nossa safra será igual ou maior do que a da última safra 2016/2017”, analisa.

Fonte: Rafaela Tavares / Facilita Conteúdo

Compartilhe:

Cadastre seu e-mail e receba novidades