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13/02/2022- Alta dos preços, falta de fertilizantes e de defensivos preocupa produtores rurais


Embora de modo geral o agronegócio brasileiro venha apresentando bom desempenho durante a pandemia de covid-19, dois problemas que surgiram em meio à crise sanitária estão tirando o sono dos produtores rurais: o encarecimento e a falta de fertilizantes e de defensivos agrícolas.

De acordo com Alexandre Altrão, diretor executivo de uma rede de distribuição de produtos agropecuários no interior paulista, e que tem uma unidade em Araçatuba, atualmente, questões econômicas (alta do dólar), ambientais e gargalos logísticos (falta de contêineres e de navios) ameaçam a produção agrícola nacional. Primeiramente, segundo a empresário, houve o impacto da pandemia da covid-19, sendo que a crise sanitária forçou a redução no ritmo de produção de indústrias de fertilizantes e defensivos agrícolas em todo o mundo.

Agora, são as crises energéticas e políticas, na China, Rússia e Índia, três dos principais fornecedores de matérias-primas do mercado global, que estão prejudicando a cadeia produtiva. O empresário lembra que o Brasil importa quase 80% dos ingredientes desses produtos. No caso da China, o país fez uma mudança na sua política energética e uma parte importante de províncias que têm os centros químicos que produzem produtos oriundos do fósforo amarelo e do glifosato não trabalha mais nos turnos de antes.

O fósforo é um dos principais elementos para fertilizantes, enquanto o glifosato tem um papel importante na produção de agrotóxicos, sendo agrotóxico mais vendido no mundo. Além disso, a China anunciou, em outubro do ano passado, que os seus estoques de carvão das usinas geradoras de eletricidade estão “perigosamente baixos”, podendo resultar em até seis meses de crise energética.

De acordo com Altrão, dificilmente o produtor rural vai absorver o aumento do custo de produção. “O produtor rural está assustado, porque os custos subiram de forma significativa. Os fertilizantes praticamente dobraram de preço, e alguns insumos de tratamento chegaram a quadruplicar. Como se não bastasse, muitos desses produtos estão em falta no mercado. Teve até agricultor que comprou e não está recebendo o que encomendou. No final das contas, isso encarece muito o custo médio de produção, desde hortifrutigranjeiros até commodities, como a soja, e isso vai ser chegar à prateleira do supermercado”, analisa o empresário.

SIRAN

O presidente do SIRAN, o Sindicato Rural da Alta Noroeste, Thomas Rocco, diz que mesmo agricultores que encomendaram fertilizantes e herbicidas com antecedência estão enfrentando dificuldades para receber os produtos. No fim das contas, ele revela que não restam muitas opções para o produtor rural.

“Ou o agricultor atrasa o plantio e assume o risco de esperar outra condição favorável para o plantio, ou então vai buscar por produtos substitutos, como adubo organomineral ou outra fonte alternativa qualquer de adubação, assim como usar defensivos que substituam os que estão faltando, como o glifosato. Tem sido uma escolha de Sofia para os produtores, que estão assumindo esse custo mais alto para não ficar sem fertilizantes e insumos, o que pode comprometer a sua produção. O momento é de muita atenção e de cautela para nós, do agronegócio”, comenta Rocco.

Para ele, a safra 21/22 já deve ser afetada pela escassez dos ingredientes. Rocco destaca que o SIRAN está recomendando ao produtor rural que tenha todos os seus custos na ponta do lápis.

Plano estratégico

O diretor do departamento de sanidade vegetal e insumos agrícolas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Carlos Goulart, afirma que a possível falta de defensivos preocupa o mundo todo e que o Mapa tem acompanhado essa questão para que não ocorra desabastecimento no mercado brasileiro. “Com o efeito da pandemia nas cadeias de suprimentos, principalmente da China e Rússia, entre maio e junho, começamos a ter sinalizações da falta de capacidade da indústria em entregar a tempo e na quantidade esperada os volumes que o Brasil consome”, explica.

Goulart afirma que o país pode enfrentar a falta de fertilizantes e defensivos, mas que isso não deve ocorrer na safra de verão e, sim, nas seguintes. “Temos diferentes cenários em andamento e nosso país é muito dependente dos três principais macros nutrientes – nitrogênio, fósforo e potássio. E cada um deles com problemas específicos de fornecimento. Na verdade, em alguns casos, se trata mais de uma questão geopolítica do que das cadeias de suprimentos”, acrescenta.

De acordo com a diretora da Frencoop e presidente da Comissão de Agricultura, a deputada Aline Sleutjes (PR), o caminho para suprir a falta de fertilizantes e defensivos no Brasil passa pela regulamentação dos bioinsumos no país. “Essa dependência de outros países em relação aos nossos fertilizantes precisa mudar com urgência, uma vez que esperamos uma produção de alta performance, alta qualidade, renovada, sustentável e com responsabilidade ambiental”, alerta.

Fonte: Marcelo Teixeira

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